quarta-feira, 2 de março de 2011

Carta do Congresso Americano a BP, com base nas 5 decisões adotadas por esta empresa, o que levou ao acidente (blow-out) no Golfo do México, em abril de 2010.


Centésima décima primeira Legislatura
Congresso dos Estados Unidos
Câmara dos Representantes

Comissão de Energia e Comércio
2125 Rayburn House Office Building
Washington, DC 20515-6115

energycommerce.house.gov

14 de junho de 2010

Sr. Tony Hayward
Diretor Executivo
BP PLC
Praça Sr. James, nº 1
Londres SW1Y 4PD
Reino Unido

Prezado Sr. Hayward,

         Nós estamos interessados em seu depoimento perante a Subcomissão de Supervisão e Investigação na quinta-feira, 17 de junho de 2010, a respeito das causas do “blow-out” do poço de Macondo e do atual desastre causado pelo vazamento de óleo no Golfo do México. Enquanto o Sr. se prepara para o depoimento nós gostaríamos de partilhar com o Sr. alguns dos resultados das investigações feitas pela Comissão e alertá-lo para questões que o Sr. deverá estar preparado para abordar.

         As investigações da Comissão estão levantando sérias questões a respeito das decisões tomadas pela BP nos dias e horas antes da explosão da Deepwater Horizon. No dia 15 de abril, 5 dias antes da explosão, o engenheiro de perfuração da BP classificou o poço de Macondo como um “poço de pesadelo”. Apesar das dificuldades do poço, parece que a BP tomou múltiplas decisões por razões econômicas que aumentaram o risco de uma falha catastrófica no poço. Em diversas circunstâncias, estas decisões parecem ter violado as regras da indústria e foram tomadas apesar dos avisos do próprio pessoal da BP e de seus contratados. Com efeito, parece que a BP repetidamente escolheu procedimentos arriscados com o objetivo de reduzir custos e poupar tempo e adotou esforços mínimos para conter os riscos aumentados.

         Na ocasião do “blow-out”, o poço de Macondo estava significativamente atrasado em relação ao planejado. Parece que isto criou pressões para que se buscasse atalhos para acelerar o término da perfuração. De modo especial, a Comissão está focalizando sua ação em cinco decisões cruciais adotadas pela BP:
1)    A decisão de usar um projeto de poço dotado de poucas barreiras para o fluxo de gás;
2)    A falha em usar uma quantidade suficiente de centralizadores para evitar um caminho preferencial durante o processo de cimentação;
3)    A falha ao executar um registro de aderência da cimentação para avaliar a efetividade do serviço de cimentação;
4)    A falha na circulação de lamas de perfuração potencialmente portadoras de gás fora do poço e;
5)    A falha em proteger a cabeça do poço com uma luva de bloqueio antes de permitir que houvesse pressão sobre o selo vinda de baixo.
O aspecto comum dessas cinco decisões é que elas representam um mecanismo de compensação entre custo e segurança do poço.

         Projeto do poço – Em 19 de abril, um dia antes da explosão, a BP instalou a seção final de tubos no interior do poço. A BP poderia escolher entre duas opões primárias: ela poderia baixar uma coluna completa de tubos de revestimento desde a cabeça do poço até o fundo ou poderia empregar uma camisa ligada à extremidade inferior do revestimento já posicionado no poço e instalar um suspensor no topo da camisa. A opção camisa-suspensor exigiria mais tempo, além de ser mais cara, porém seria mais segura já que imporia mais barreiras ao fluxo de gás pelo espaço anular que envolve os tubos de revestimento A revisão dos planos da BP preparada em meados de abril recomendou de modo contrário a coluna completa de tubos de revestimento porque ela criaria um “espaço anular aberto na cabeça do poço” e tornaria o conjunto de selagem na cabeça do poço a “única barreira” para o fluxo de gás se a cimentação falhasse. Apesar deste e outros alertas, a BP optou pela mais arriscada opção dos tubos de revestimento, aparentemente porque a opção da camisa poderia custar de US$ 7 a US$ 10 milhões a mais e seria mais demorada.

         Centralizadores – Quando a coluna final de tubos de revestimento estava instalada, um desafio-chave seria garantir que os tubos de revestimento seriam baixados no poço de forma centralizada. Conforme explicam as práticas recomendadas pelo American Petroleum Institute (API), se os tubos de revestimento não estão centralizados, “fica difícil, senão impossível deslocar efetivamente a lama no lado mais estreito do espaço anular”, resultando num serviço defeituoso de cimentação. A Halliburton, empresa contratada pela BP para cimentar o poço, alertou a BP que o poço poderia ter um SÉRIO problema com o escoamento de gás se a BP baixasse a última coluna de tubos de revestimento usando apenas seis centralizadores em vez dos 21 recomendados pela Halliburton. A BP rejeitou o alerta da Halliburton para usar centralizadores adicionais. Num e-mail de 16 de abril, um executivo da BP envolvido com a decisão explicou: “vamos gastar 10 horas para instalá-los...eu não gosto disto”. Mais tarde naquele dia, outro executivo reconheceu os riscos de proceder com um número insuficiente de centralizadores, mas comentou: “o que importa, está feito, assunto encerrado, provavelmente será ótimo”.

         Registro de aderência da cimentação - A revisão do plano da BP feita em meados de abril previu a falha na cimentação informando que “as simulações de cimentação indicam que será muito improvável que o processo de cimentação tenha sucesso por causa de danos causados à formação”. Apesar deste aviso e dos alertas da Halliburton a respeito dos sérios problemas no fluxo de gás, a BP não executou o procedimento com duração de 9 a 12 horas conhecido como registro de aderência da cimentação para aquilatar a integridade do selo de cimento. A BP tinha uma equipe da Schumberger a bordo da sonda na manhã de 20 de abril para executar o registro de aderência da cimentação, mas a equipe deixou a sonda após a BP ter-lhes informado que seus serviços não seriam necessários. Um especialista independente consultado pela Comissão classificou esta decisão como “terrivelmente negligente”.

Circulação de lama – Nas operações de explorações como a do poço de Macondo, os poços são, em geral, preenchidos com uma lama de peso calculado durante o processo de perfuração. O American Petroleum Institute (API) recomenda que as companhias de petróleo façam circular plenamente a lama de perfuração no interior do poço desde o fundo até o topo antes de iniciarem o processo de cimentação. A circulação de lama no poço de Macondo poderia levar cerca de 12 horas e isto poderia permitir aos trabalhadores na sonda testar a lama em relação aos vazamentos de gás, eliminar alguns bolsões de gás e detritos e condicionar a lama para evitar a contaminação do cimento. A BP decidiu não executar essa etapa e executar apenas uma circulação parcial da lama de perfuração antes dos trabalhos de cimentação.

         Luva de bloqueio – Visto que a BP decidiu utilizar somente uma única coluna de tubos de revestimento, o poço de Macondo tinha apenas duas barreiras para o escoamento do gás para cima através do espaço anular em torno da última coluna de tubos de revestimento: o cimento no fundo do poço e o selo na cabeça do poço no fundo do mar. A decisão de usar poucos centralizadores criou um risco significativo de que o cimento formasse canais de escoamento de gás em seu interior e falhasse, ao passo que a decisão de não executar um registro de aderência da cimentação negou à BP a oportunidade de avaliar o status do trabalho de cimentação. Estas decisões poderiam aparecer para tornar crucial assegurar a integridade do conjunto de selagem que era a barreira remanescente contra o vazamento de hidrocarbonetos. Ainda assim, a BP não instalou a luva de bloqueio do revestimento que poderia ter evitado que o selo tivesse sido removido pela explosão vinda de baixo.

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